O que eu quero, Mário Alberto

Ana Flávia
2 min readNov 29, 2021

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Sabe o que eu quero agora, Mário Alberto? Não é dormir junto com cheiro de banho. Eu quero de volta aquela festa que eu não fui porque você ia e “ainda não estava pronto pra me apresentar para os seus amigos”. E quero de volta as festas dos meus amigos que eu te levei.

O que eu quero, Mário Alberto, não é transar com você de novo. Eu quero de volta o tempo que gastei para escolher aquela lembrancinha que eu trouxe de Maceió, escrevendo o bilhetinho com aquela letra pequenininha para caber. Você repare, Mário Alberto, no tamanho da letra do bilhetinho. Quero de volta a saúde que perdi sentindo angústia e insegurança para te entregar parceria e conforto.

Quero de volta meu casaco favorito que deixei na pousada quando fugi daquela festa em que você me deu um perdido. Não quero repetir aquela noite do baseado e do jogo do São Paulo, Mário Alberto. Quero de volta a coragem que gastei no ponto de ônibus no meio da estrada à noite, quando ia te ver.

Não quero te dar a mão enquanto a gente toma café, Mário Alberto. Quero de volta o dinheiro que gastei pra concluir meu plano de mudar de cidade, e que você incentivou, mas depois me abandonou. Quero poder ir ver meus amigos de novo em Guaecá, sem sentir vontade de gritar — e sem ter que entrar no cheque especial.

Sabe o que eu quero? Não é te contar do meu dia, nem do meu processo seletivo. Achei que fosse. Mas, Mário Alberto, eu quero de volta as 100 pila que gastei naquele rodízio de sushi que você me convidou pra comer logo após me falar que tinha se desconectado. Aí quando você me viu com raiva e certa de que eu não te queria mais, você fez cara de cachorro sem dono e me perguntou se eu estava com fome.

O que eu quero, seu idiota, é que pra compensar as notificações do seu tinder que eu tive que engolir enquanto a gente assistia filme, que seu time caia para a série B, e que eu grite no estádio todos os palavrões que você deveria ouvir. E que eu faça isso com o grito de mais 50 mil pessoas.

O que eu quero é que você perceba que aquela “selfie de despedida” que você me mandou quando eu falei para cortarmos a comunicação, deveria ser assunto das suas próximas mil sessões de análise. Não quero sua voz rouca de cigarro, que eu achava bonitinha. Entendeu, Mário Alberto?

O seu ego, Mário Alberto, te convenceu que o que eu quero, é ter você de novo. Que eu estou histérica ou louca. Mas o que eu sinto, Mário Alberto, é raiva… repare que eu não disse lamento, pesar, arrependimento, saudade. É raiva. Raiva quente, raiva grande, raiva dura, raiva pulsando.

E o que eu quero. Ah… eu quero é que alguém erre feio no seu corte de cabelo.

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